GERAL

Editora prepara lançamento de livro sobre Leonel Brizola

Brizola, governador gaúcho, com João Goulart, presidente da República (Fotos Divulgação)

 

A Editora JÁ, de Porto Alegre, entra em fase final de produção do livro “No Fio da História – A vida de Leonel Brizola”, resultado de, pelo menos, duas décadas de pesquisas, entrevistas e reportagens. A autoria é de Cleber Dioni Tentardini, com edição de Elmar Bones da Costa, e colaboradores de vários estados e do Uruguai.

 

Para bancar os custos com gráfica e edição, que está na fase final, a editora está fazendo uma “vaquinha virtual”, através do Catarse, uma plataforma de financiamento coletivo.

 

Cleber lembra que este ano de 2024 é emblemático para os trabalhistas. Leonel Brizola estaria completando 102 anos em 22 de janeiro. Em 31 de março, terão decorridos 60 anos do golpe cívico-militar, que mergulhou o país numa ditadura. Em 17 de junho, completam-se 45 anos da Carta de Lisboa, um marco na história do Trabalhismo, e que criou as bases para fundação do PDT. E, em 21 de junho, terão passados 20 anos da morte do líder político, único a governar dois estados brasileiros.

 

Cinco meses antes de Brizola morrer, o jornal JÁ começou a produzir uma série de reportagens a propósito dos 40 anos do Golpe de 64. Os jornalistas Elmar Bones, Renan Antunes de Oliveira e Cleber estavam tentando agendar uma entrevista com o Brizola na sua estância El Repecho, na província de Durazno, no Uruguai. O filho João Otávio, que estava em Montevidéu, disse que encontrariam seu pai por lá em junho. Combinaram de visitá-lo. Não deu tempo.

 

Morreu no dia 21 daquele mês de 2004, no Rio de Janeiro, vítima de infarto, aos 82 anos. Não resistiu ao agravamento de uma forte gripe, contraída uma semana antes, no inverno rigoroso uruguaio. 

 

Tentardini diz que o material que recolheram para aquela reportagem foi tão valioso, que ele mergulhou na história de vida desde a infância em Carazinho. Rendeu uma edição especial do jornal JÁ e o livro-reportagem “O menino que se tornou Brizola”, com o olhar atento do editor João Borges de Souza, um veterano do jornalismo político, que cobriu, inclusive, a expulsão de Brizola do Uruguai, durante o exílio. Na capa, pela primeira vez, uma foto do líder trabalhista menino, que o jornalista encontrou vasculhando os arquivos da Escola Técnica de Agricultura, em Viamão. 

 

Esgotada a primeira edição, a segunda foi publicada em 2013 e se estende até o retorno ao Brasil, em 6 de setembro de 1979. A contribuição decisiva de jornalistas e militares que atuaram naquele período permitiu ampliar a obra com textos e imagens que narram a trajetória do ex-governador gaúcho e carioca nos 15 anos de exílio.

 

“Vamos retomar o fio da história exatamente onde pretenderam interrompê-lo, no Rio de Janeiro”, explicava Brizola, em 1979, a companheiros incrédulos, que queriam convencê-lo a permanecer na política gaúcha.

 

Pois, é a partir desse ponto que Tentardini retomou a história do líder trabalhista. A edição atual é uma fusão das duas fases da vida de Leonel Brizola, antes e depois do exílio. É um livro recheado de curiosidades, vitórias, derrotas, decepções, amores, fúrias, perseguições, reconciliações, conchavos, e dezenas de páginas ilustradas com fotos, charges e reproduções de jornais.

 

“É um trabalho jornalístico, para ser uma base factual consistente, que permita entender melhor a trajetória desse personagem fascinante que é o Brizola”, diz o editor Elmar Bones.

 

A obra resgata os pais de Brizola, passando pela adolescência em Passo Fundo e em Porto Alegre, o desempenho escolar e, depois, acadêmico, o início da vida política, os mandatos como deputado estadual e federal, as administrações em Porto Alegre e nos dois estados.

 

O livro narra a luta do adolescente para sobreviver na cidade grande e sua obstinação pelos estudos, as amizades, o início do namoro com sua futura mulher, o primeiro contato com o trabalhismo, até se tornar um grande nome da política nacional. Também traz o depoimento de militares que acompanharam as últimas horas de Brizola em Porto Alegre, antes de se retirar para o litoral gaúcho vestido com uma farda de soldado da Brigada Militar e, em seguida para o Uruguai. A roupa e o capacete da BM, ele guardava em sua estância no Uruguai, como lembrança daqueles tempos sombrios.

 

O autor fez centenas de entrevistas, realizou demoradas pesquisas em Passo Fundo, Carazinho e Porto Alegre. Ouviu parentes (irmãos, principalmente), amigos, diretores de instituições de ensino onde estudou; correligionários e adversários políticos e alguns amigos de infância, algo que, até então, fora tratado com superficialidade e, naturalmente, com muitas informações desencontradas.

 

Tentardini encontrou a senhora que acompanhou Brizola, com 14 anos, na viagem de trem até a Capital e lhe deu abrigo nos primeiros dias. E foi quem encontrou a única foto do ex-governador menino, na ficha estudantil dos arquivos da Escola Técnica de Agricultura, em Viamão.

 

As pesquisas estenderam-se aos arquivos históricos, museus, bibliotecas, secretarias de escolas, igrejas e cartórios, todo o esforço necessário para desvendar a vida de Leonel Itagiba, que depois seria apenas Leonel, filho de José Brizola, um revolucionário maragato de 1923, oficial das tropas do general e caudilho Leonel Rocha.

 

Tentardini foi conhecer Cruzinha, o distrito de Carazinho onde José Brizola, sua mulher Oniva e os cinco filhos (Leonel Itagiba era o mais moço) moravam, criavam algum gado e plantavam, mas não havia mais nada lá. No caminho, encontrou um desvio para o cemitério do distrito, onde estão sepultados os pais de Brizola – localizado numa pequena planície a pouco mais de um quilômetro da beira da estrada principal.

 

Brizola nos anos 1990. Acervo Memorial do Legislativo RS

 

O livro avança com pesquisas minuciosas sobre os jornais da época em que Brizola foi deputado estadual, prefeito, governador e deputado federal. As campanhas políticas nas décadas de 80 e 90, os governos do Rio de Janeiro, quando enfrentou adversários poderosos, incluindo o jornal O Globo. À propósito, o livro traz dissertações e teses defendidas na Universidade de Passo Fundo com recortes preciosos da atuação política de Brizola que tratam, por exemplo, dos boicotes que ele sofreu nos noticiários do principal jornal da família Marinho e de como o poderoso aparato do governo norte-americano monitorou de perto a vida do líder trabalhista.

 

Outros trabalhos acadêmicos detalham histórias de quem integrou os Grupos de Onze Companheiros e sofreu perseguições, prisões e torturas por parte do aparato policial a serviço da ditatura militar, e um estudo detalhado sobre o processo de encampação da companhia de energia que atuava no Rio Grande do Sul, desconstruindo uma versão consagrada pelos livros de história.

 

Além dos relatos dos irmãos e demais parentes, a sua companheira por mais de vinte anos, a partir da década de 1980, conta um pouco da vida pessoal de Brizola, incluindo viagens, pescarias, músicas e cantorias nos escassos momentos do casal longe das atividades políticas.

 

Um capítulo final traz a cobertura completa da morte e dos funerais, reflete sobre a importância e o legado de lutas e princípios que Leonel de Moura Brizola deixou ao longo de meio século na vida política do Brasil, a herança material e o mistério sobre o destino do seu acervo, e depoimentos exclusivos sobre o personagem que marcou a política nacional.

 

Data: 11/03/2024 - 09:51

Fonte: Assessoria de Imprensa

COMPARTILHE